7 de junho de 2013

A Carta

        Meu querido amigo, aprendi muito com você, me tornei você, ou pior que você. Suas desaventuras em série chicotearam seus efeitos colaterais em mim. Percebi o que você falava, do pouco, entendi. Entendi que a mente é algo cíclico e erótico do sujeito e suas diretrizes o comandam. Você abandonou o caso mas a paciente já não está mais sozinha, está acompanhada por seus anjos delirantes e protetores. E se isso não for real, não há problema. Ainda sim ela está bem, mesmo sozinha.
        Ela compreendeu o valor do seu ser, compreendeu que não há porque falar para os Sete Mundos, o que há com ela. É tudo uma grande bobagem. Algo que vai além do sonhos e das análises não deve ser descartado mas também não precisa receber total atenção. É necessário apenas alguns comprimidos para tudo se esvair pelo vento, sem se sumir por completo.
        Eu era essa paciente. Você era. Você foi o tempo todo o sujeito analisado mas você nunca trabalhou comigo como a psicanálise pede. Os casos são mais fortes. Estamos de alta. Libertados.
        Anna O. te conquistou e você saiu correndo, depois de ter plantado algo nela. E eu só observei, sentindo o cheiro de pudim ao longe que talvez seja a lembrança dos seus doces. Me perdoe por fugir também mas preciso que o método de associação livre recaia sobre mim. Preciso ser livre ao me trancar, ao ser fria na minha subjetividade. Já não há uma relação simétrica. Preciso achar o devido lugar ao qual pertenço, sem atos falhos.
        Cansei da neurose e da histeria.
        Até breve meu amigo Freud, que nos encontremos nos lindos campos da sua época e que possamos divagar sobre nossas teorias. Venha me visitar se quiser para tomarmos um vinho ou um conhaque, fumarmos um charuto e liberarmos o libido, onde um charuto será apenas um charuto.
        Um grande abraço,
        Sua Queria Amiga.

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