26 de julho de 2011

Sobre Sentimentos

       Sentimentos nunca são guardados. Você pode esconde-los, não demonstra-los, mas de alguma maneira você os externaliza. Seja escrevendo, pintando ou qualquer outro tipo de arte, ele está ali, do lado de fora de sua cabeça, coração e corpo. É sua escolha deixa-lo viável para meio mundo (ou mundo inteiro talvez) ou apenas compartilhando com você mesmo, sua mente, para o seu futuro ou para, quem sabe, seus futuros leitores de suas 'obras inéditas'.
       Poderá dividir também com pessoas. Amigos, familiares (de sangue ou não), alguém que nunca viu na vida, médicos... Nesse caso, além de lidar com os próprios dilemas, você lidará com o julgamento dos outros. Se tal sentimento ou pensamento é bom ou ruim, como lidar com ele.
       Apesar de ser mais complexo lidar com outro ser humano, na maioria das vezes é esse caminho que tomamos para exteriorizar o que tem dentro de si. Desabafos, choros, pulos de alegria, abraços, sorrisos, beijos ou um simples olhar. O que queremos é sentir.
       Para os mais expertos, que evitam a complexidade do homem, resta o medo. Incrivelmente essa palavra tem outro sentido do que o de costume. O medo de mostrar o seu interior é causa e efeito do fator 'proteção'. Isso ajuda a pessoa a criar um muro em volta de si. Alto e forte. Evita o julgamento e a manipulação dos outros. Neste reino de um Rei, com altas muralhas e população de apenas um membro, outros povos tentam invadir. Apenas bravíssimos e raros guerreiros conseguem tal proeza, mas não por muito tempo.
       E quando este Rei resolve desbravar outras terras? Há um túnel com várias portinhas e em cada uma muitas fechaduras, que o próprio construiu e apenas ele tem as chaves. As quais ficam jogadas em algum canto do castelo.
       Metáforas a parte... Não necessariamente todas as pessoas que são reservadas, são por medo, ou pelo menos dizem que não. E também não é regra as pessoas serem um livro totalmente aberto. É bom ter seus sentimentos secretos e mistérios na vida.
       O fato é: todos sentem e todos demonstram, não importando como. Todos queremos sentir.

20 de julho de 2011

Frio

       Casacos e mais casacos. Cachecóis aquecendo os pescoços. Um dia frio, nublado mas bonito. Talvez pela paisagem, talvez pela companhia. Sua pele branca agora assume um tom rosado nas bochechas. Aqueles olhos claros como sua alma, se modificam com o ambiente e agora está beirando um azul. Tão bom olhá-los e não ver nenhuma resistência. Poder se infiltrar numa pessoa apenas por um olhar.
       Sua boca, não muito grande, também está mais rosada pelo mesmo motivo, o frio. Seus cabelos castanhos não estão se movendo como num belo verão. Estão cobertos por um gorro de lã, deixando apenas alguns fios respirarem.
       As extremidades desprotegidas de nossos corpos, orelha e nariz, estão geladíssimos. Estamos parados sobre um rio famoso. Isto só ajuda para que o vento passe um pouco mais feroz, talvez desejando que as pessoas ficassem em casa.
       Nossos dedos estão entrelaçados. Apesar estarmos com luvas e essas impedirem que nossas peles se toquem nessa sutil demonstração de companheirismo, sinto a pressão de casa músculo e cada osso de sua mão sobre a minha, a recíproca foi verdadeira.
       Apesar de todo o clima, não resisto e deixo uma das mãos desprotegidas. Num quase impulso, ela se encaminha para o outro rosto. Toco cada parte, alternado a palma e as costas da mão. Fecho os olhos e continuo a toca-lo como se quisesse gravar cada pedacinho, mesmo se vivesse no escuro. Acabo descobrindo, com um sorriso espontâneo, que já conheço.